Caíram bastante, segundo os economistas, as chances de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) inicia um ciclo de queda nas taxas de juros ainda no primeiro trimestre de 2024. A explicação está na semana marcada pela divulgação de dados sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, especialmente do payroll nesta sexta-feira (5), e pelo detalhamento da ata reunião de dezembro do Fomc, o comitê de política monetária do Fed.
Segundo dados da plataforma FedWatch, do CME Group, a probabilidade de o Fed cortar os juros na reunião do dia 20 de março caiu de 62,3% para 54,4% em um dia. Há uma semana, essa aposta estava em 73,4%.
O Departamento do Trabalho revelou hoje que foram criadas 216 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês de dezembro, acima dos 173 mil postos de trabalho gerados em novembro e também do consenso dos analistas, que estimavam a criação de 170 mil vagas no mês.
Para economista chefe da Nomad, Danilo Igliori, a aceleração nas contratações e a manutenção na taxa de desemprego (em 3,7%) em dezembro não apenas surpreenderam analistas, mas vão na mesma direção dos sinais capturados na ata do Fomc.
“A mensagem é que diminui a probabilidade de um corte de juros já no primeiro trimestre. Com o mercado de trabalho ainda bastante apertado e as incertezas sobre as projeções para 2024 mencionadas na ata, o fantasma do ‘high for long’ continua presente”, comentou, citando a expressão usada para definir que as taxas ficarão altas por mais tempo.
Segundo ele, a ansiedade para conhecer os próximos indicadores de inflação crescerá bastante após as revelações desta primeira semana de 2024.
Sávio Barbosa, economista chefe da Kínitro Capital, ponderou que foram anunciadas também revisões para baixo de 71 mil postos nos dois meses anteriores e que isso contrabalançou parte da surpresa positiva, mas não mudou a leitura geral.
Ele comentou ainda que a criação de postos de trabalho sustentou um ritmo mensal próximo de 200 mil nos últimos seis meses e que esse resultado é compatível com um ritmo de crescimento do PIB próximo de 2,5% anuais, que vigorou ao longo dos últimos trimestres.
“Outro fator que aponta para a manutenção da criação de postos em ritmo forte é a estabilização do ritmo de criação nos setores mais ligados ao ciclo econômico. Esses setores geraram em média 100 mil postos por mês desde julho”, lembrou.
“Os dados de hoje mostram que o mercado de trabalho americano segue forte e que o ritmo de criação de vagas pode se estabilizar em patamar relativamente elevado, seguindo a dinâmica do crescimento do PIB. Essa performance pode deixar o Fed conservador e atrasar um pouco o ciclo de cortes de juros”, previu.
Na opinião de Andressa Durão, economista da ASA Investments, os dados do mercado de trabalho continuam apontando para uma economia forte, sem sinais de recessão. Mas ela acredita que, para as decisões do Fed, no momento importam mais os dados de inflação.
“Mesmo que o mercado de trabalho continue apertado, se a inflação continuar diminuindo, o Fed seguirá seu plano de antecipar o corte de juros de acordo com a revisão das projeções de inflação.”
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, por sua vez, afirmou que o dado de hoje praticamente anulou a possibilidade de queda de juros no primeiro trimestre deste ano, movimento que só deve acontecer nos meses subsequentes.
André Cordeiro, economista sênior do Banco Inter, também vê pouco espaço para cortes de juros em março, especialmente com os salários crescendo a uma taxa incompatível com a meta de inflação de 2% e em tendência de aceleração.
“Além disso, algumas pressões inflacionárias aparecem no horizonte, com um potencial choque de oferta devido aos ataques Houthis que impedem o acesso ao canal de Suez, encarecendo a logística internacional. Portanto, acreditamos que o espaço para cortes nos juros no curtíssimo prazo é bastante limitado.”
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