O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, em entrevista à InfoMoney, afirmou que a taxa neutra, que é aquela que não acelera nem desacelera a economia, está bem acima do que é atualmente indicado pelo modelo do Banco Central. Segundo ele, essa taxa é um dos principais fatores que podem explicar as expectativas de inflação acima da meta estabelecida pelo governo.
De acordo com Carvalho, o modelo atual do BC considera uma taxa neutra de juros em torno de 4,5%. Porém, na prática, acredita-se que essa taxa esteja em torno de 6%. Isso significa que, se o BC mantiver a taxa de juros em 4,5%, estará, na verdade, estimulando a economia de forma excessiva, o que pode gerar uma inflação ainda mais alta.
Essa divergência entre a taxa neutra indicada pelo modelo e a taxa real pode ser explicada por diversos fatores. Um deles é a mudança estrutural na economia brasileira, que passou por uma forte desaceleração após a crise financeira de 2008. Segundo Carvalho, essa mudança de cenário não foi totalmente incorporada no modelo do BC, o que acaba gerando uma taxa neutra defasada.
Outro fator importante é a instabilidade política e econômica do país. Com as constantes mudanças na política e a incerteza em relação às reformas necessárias para a retomada do crescimento, os investidores ficam receosos em aplicar seu dinheiro no Brasil, o que acaba elevando o risco país e, consequentemente, a taxa de juros neutra.
Segundo o ex-diretor, essa taxa neutra elevada, aliada às expectativas de inflação acima da meta, é um sinal de “esculhambation”, ou seja, de descontrole da política monetária. Para ele, é necessário que o BC reavalie seu modelo e faça os ajustes necessários para que a taxa neutra seja mais condizente com a realidade do país.
Além disso, Carvalho defende que o BC precisa ser mais transparente em relação à sua política monetária, fazendo projeções mais realistas e explicando melhor suas decisões. Isso ajudaria a diminuir a volatilidade do mercado e a criar um ambiente mais propício para a retomada do crescimento.
De fato, a taxa neutra é um indicador fundamental para a condução da política monetária e para o controle da inflação. Quando essa taxa é mal estimada, pode gerar consequências negativas para a economia, como o aumento da inflação e a dificuldade na retomada do crescimento. Por isso, é importante que o BC faça uma revisão de seu modelo e leve em consideração as mudanças estruturais e conjunturais do país.
Apesar dos desafios, Carvalho acredita que o Brasil tem potencial para retomar o crescimento e alcançar taxas de juros mais baixas e estáveis. Para isso, é necessário que o governo trabalhe em conjunto com o BC para implementar as reformas necessárias e criar um ambiente mais favorável aos investimentos.
Em resumo, a divergência entre a taxa neutra indicada pelo modelo do BC e a taxa real pode explicar as expectativas de inflação acima da meta. É fundamental que o BC reavalie seu modelo e faça os ajustes necessários para que a política monetária seja conduzida de forma mais eficaz. Além disso, é preciso que haja transparência e trabalho conjunto entre governo e BC para criar um ambiente mais favorável à retomada do crescimento econômico. Com essas medidas, o país poderá superar os desafios e alcançar uma economia mais estável e próspera.