Diante da crescente discussão sobre a importância da licença-paternidade no Brasil, cada vez mais empresas e organizações estão se conscientizando da importância de oferecer esse benefício aos seus funcionários. Enquanto o país continua a debater sobre o aumento da licença-paternidade, alguns especialistas têm se destacado por seus estudos sobre parentalidade e suas contribuições para esse assunto. Uma dessas especialistas é a socióloga canadense e professora da Universidade de Toronto, Orna Donath.
Donath é uma das maiores estudiosas de parentalidade do planeta, com seu trabalho focado em questões como maternidade, paternidade, parentalidade e relações familiares. Seu trabalho tem sido reconhecido internacionalmente e seus estudos têm gerado importantes discussões e reflexões sobre a vida familiar e a sociedade em geral. Em uma entrevista exclusiva para esta coluna, Donath compartilhou suas opiniões sobre o aumento da licença-paternidade no Brasil e como isso pode afetar as famílias e a sociedade como um todo.
Para Donath, a licença-paternidade é crucial para garantir que a igualdade de gênero seja alcançada na sociedade. Ela defende que é fundamental conceder aos homens a oportunidade de ficar em casa com seus filhos, assim como as mulheres tiveram por anos com a licença-maternidade. “A licença-paternidade é um passo importante na direção da igualdade de gênero. Isso permite que os homens estejam mais presentes na vida de seus filhos e assumam um papel crucial na criação e cuidado”, afirma Donath.
No Brasil, a licença-paternidade é regulamentada pela Lei 11.770/2008, que garante cinco dias de afastamento remunerado aos pais. No entanto, em países como Suécia e Noruega, os pais podem tirar até 480 dias de licença-paternidade remunerada, sendo que uma parte desse tempo é exclusivo para o pai, enquanto outra parte pode ser dividida com a mãe. “Esses países têm um nível mais avançado de igualdade de gênero e isso se reflete em políticas que promovem a licença-paternidade mais longa e mais flexível”, comenta a socióloga.
No entanto, Donath acredita que o Brasil está em um bom caminho ao discutir o aumento da licença-paternidade. Ela ressalta que é importante que sejam tomadas medidas para garantir que a medida seja efetivamente implementada. “A discussão é um bom começo, mas é preciso que haja um plano concreto para que a licença-paternidade mais longa seja disponibilizada e que as empresas não vejam isso como um custo, mas sim como um investimento”, explica.
A socióloga também destaca que a licença-paternidade pode beneficiar não apenas a família, mas também a empresa. “Quando um pai tem a oportunidade de ficar em casa com seu filho, ele pode se sentir mais comprometido e motivado com o trabalho, além de ser capaz de equilibrar melhor sua vida profissional e pessoal”, afirma Donath.
Outro ponto importante ressaltado por Donath é que a licença-paternidade mais longa também pode impulsionar uma mudança cultural na sociedade. “Com mais homens assumindo o papel de cuidador, isso pode ajudar a romper estereótipos de gênero e desconstruir a ideia de que o cuidado é uma responsabilidade exclusiva das mulheres”, afirma. Isso pode ter um impacto positivo tanto na dinâmica familiar quanto na trajetória profissional das mulheres.
Em relação àqueles que ainda argumentam que o aumento da licença-paternidade pode prejudicar as empresas, Donath enfatiza que o bem-estar das famílias e a igualdade de gênero devem ser priorizados.